segunda-feira, 27 de junho de 2016

Capítulo 2 - Adenda

As minhas sinceras desculpas, mas vou ter de insistir novamente neste tema. Parece-me que o mindset necessário para a abordagem destas situações não foi devidamente compreendido e mantém-se uma abordagem errada, clássica, com consequências gravosas para todos. Numa época em que sobre todos os assuntos médicos se fala em multidisciplinaridade, isto é inaceitável.
Assim, sem querer colocar os dedos na ferida, vou apenas focar alguns pontos que me parecem essenciais:
1. A fractura pélvica grave não deve ser abordada a titulo individual. Deve ser encarada como uma situação crítica, num doente com trauma muito grave, já que a energia necessária para produzir um distúrbio no conjunto osteotendinoso que é a pélvis é muito alta. A taxa de lesões associadas é importante, sobretudo lesões abdominais, torácicas e cranianas (basicamente tudo, não é?).
2. A fractura da pélvis deve ser encarada como um traumatismo visceral. Quer como trauma de víscera maciça, pelo seu potencial hemorrágico, quer como víscera oca pelo potencial trauma digestivo associado, sobretudo colo-rectal e, como tal, potencial infeccioso/contaminado.
3. A fractura da pélvis é o exemplo perfeito da entidade nosológica com necessidade de abordagem multidisciplinar: cirurgia geral/trauma; ortopedia; imagiologia e imagiologia de intervenção; cuidados intensivos; imunohemoterapia...
4. O packing pré-peritoneal, quando indicado, salva vidas... se pensamos que pode ser preciso, provavelmente tem que ser efectuado. Além de salvar vidas, reduz a necessidade de produtos derivados do sangue, reduz a necessidade de angioembolização, estabiliza o doente para realização de TC que pode ser fundamental, entre outros benefícios. E deve ser efectuada antes da laparotomia e sempre com a pélvis fixa, nem que seja só com um cinto (amarrado à altura dos trocanteres femorais).
5. A osteosíntese precoce, quando indicada, permite reduzir os tempos de internamento e encurtar o tempo de incapacidade. A discussão clínica do caso entre ortopedistas e cirurgiões pode assumir aqui um papel importante.
6. Por fim, é óbvio que nem todas as fracturas da pélvis merecem este tipo de preocupação. Porém, há um grupo que deve alertar os clínicos envolvidos para o seu potencial desenvolvimento de complicações graves: a classificação que me parece mais útil na tomada de decisão é a sugerida por Pol Rommens, em 2010, que propõe quatro tipos de fractura que devem ter uma abordagem multidisciplinar e de tipo de Controlo de Dano: 1. As fracturas em livro aberto – classicamente conhecidas como as que apresentam uma diástase da sínfise púbica superior a 2 cm; 2. As fracturas verticalmente instáveis – associadas a disrupções posteriores do anel pélvico; 3. As fracturas complexas – associadas a lesões orgânicas e 4. As fracturas expostas.

Ok
Tenho dito...

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